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Associadas da AECBP distinguidas com o estatuto PME Excelência 2022

O estatuto PME Excelência é uma iniciativa do IAPMEI- Instituto de Apoio a Pequenas e Médias Empresas e à Inovação e do Turismo de Portugal, em parceria com um conjunto de bancos parceiros e as Sociedades de Garantia Mútua, sendo este estatuto uma distinção atribuída anualmente a um leque restrito de empresas.

Nesta edição foram distinguidas 3922 empresas, das quais 49 pertencem ao distrito de Castelo Branco representando vários setores de atividade.

A AECBP vem, por este meio, enviar as mais sinceras felicitações às empresas nossas associadas que obtiveram este reconhecimento.

Entrevista ao sócio: Ilídio Fernandes da Ourivesaria Fernandes

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“A Ourivesaria Fernandes é uma ourivesaria e relojoaria com uma história longa de tradição no comércio de jóias na cidade da Covilhã. Foi fundada pelos meus pais, Ilídio Fernandes e Amélia, em 1948.

A loja encontra-se hoje no concelho da Covilhã. É conhecida pela sua dedicação a artigos de joalharia e relojoaria, dando especial atenção aos pormenores. A Ourivesaria Fernandes é uma empresa de renome, que serve a comunidade local e os clientes da Beira Baixa há várias décadas.

A história da nossa empresa em si começa quando o meu pai, Ilídio Fernandes, regressou do serviço militar obrigatório e escolheu a Covilhã para iniciar o seu negócio, seguindo os passos da sua família de ourives em Febres (Cantanhede). A primeira loja foi aberta no histórico edifício do Hotel Solneve, o principal hotel da cidade na época e de paragem obrigatória para quem subia até à Serra da Estrela.

Na década de 60, com o início do declínio da indústria têxtil na Covilhã e a diminuição do poder de compra na região, ele arriscou-se em Angola e Moçambique como representante de relógios e outros bens relacionados à ourivesaria, enquanto a minha mãe permaneceu na Covilhã, continuando a gerir o negócio que construíram juntos.

Em 1977, eu decidi juntar-me aos meus pais na Covilhã. Com a introdução dos relógios Quartz, que revolucionaram a indústria relojoeira da época, a Ourivesaria Fernandes entrou numa nova era, sempre à procura de trazer os melhores produtos de joalharia à Covilhã.

Na década de 90, a loja expandiu-se, ocupando também as instalações contíguas da prestigiada loja “Sonho Dourado”. Manteve-se lá até agosto de 2010, quando os comerciantes locais começaram a procurar oportunidades na “zona nova” da cidade, impulsionada pela abertura do Serra Shopping.

Abracei o desafio de abrir uma segunda loja neste novo centro comercial a 26 de novembro de 2005, oferecendo aos clientes mais uma opção para encontrar os seus artigos exclusivos e serviços especializados.”

Q: Qual foi o percurso profissional que o levou até aqui?

“O percurso foi familiar, de geração em geração. Em 1977, após ter estudo em Lisboa, comecei a trabalhar na ourivesaria. Comigo trouxe novas ideias e uma visão inovadora para o negócio. Atualmente sou o gerente.”

Q: Quais foram os obstáculos que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“A pandemia afetou toda a gente, mas para nós não houve problemas porque estivemos fechados. E agora cá estamos.”

Q: O seu comércio criou raízes na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“No Serra Shopping há mais clientes. Com esta localização, atingimos um público maior do que se estivéssemos na rua.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“As perspetivas para o futuro é continuar a atualizar os nossos produtos/marcas. Desde o início que sempre vendemos jóias e relógios, mas estamos sempre a inovar. Aliás, nos dias de hoje, a Ourivesaria Fernandes continua a ser uma marca de renome na Covilhã.

Conta com duas lojas e um escritório localizados na cidade, comigo e com Miguel Fernandes na liderança. Deste modo, asseguramos a continuidade do negócio no seio familiar.

Somos e vamos continuar a ser conhecidos pela tradição, qualidade das jóias e serviços personalizados. Vamos também manter-nos fiéis aos valores familiares que duram há mais de setenta anos.”

Entrevista ao sócio: Paulo Achando da Goma Choc

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“Isto era uma loja que já existia no Serra Shopping. Foi uma senhora que resolveu ter uma loja de doces, com gomas, pastilhas e chupa-chupas. Abriu em 2018 e eu comprei o negócio em 2020. Portanto, estou cá há três anos.

O que fiz foi desenvolver a loja, colocando mais produtos. Por exemplo, temos chocolates artesanais belgas, que são uma importação. Como é uma loja de doces, a ideia é haver de tudo o que sejam doces. Metade da loja, mais ou menos, é para as crianças e é self-service. Elas é que se servem. Para além disso, existe uma parte direcionada a um target diferente, mais adulto. Aí somos nós que servimos. Fazemos caixas de bombons e embrulhos personalizados. Os bombons são vendidos ao quilo.”

Q: Qual foi o percurso profissional que o levou até aqui?

“Eu sempre trabalhei na área comercial. Trabalhei na grande distribuição, no grupo E. Leclerc e no grupo Intermarché. Também trabalhei na área de eventos. Um dia, surgiu esta oportunidade. A loja era de uma amiga minha e eu sabia que ela se queria desfazer do espaço porque tinha outros negócios. Na altura da pandemia, o sítio onde eu trabalhava também fechou e eu não sabia quando é que ia reabrir. Então, mesmo em pandemia, fiquei com a loja.

Q: Quais foram os obstáculos ultrapassados que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“O obstáculo foi a pandemia. Foi muito complicado. Para além de termos estado fechados, quando reabrimos tínhamos um horário mais reduzido, com o número de pessoas contadas na loja e não eram as pessoas que se podiam servir. E o que as pessoas querem é chegar e servir-se.

Tirando essa situação, eu acho que o negócio corre bem. Não me vou queixar da loja em si porque, depois de ter passado a fase da pandemia, as coisas voltaram a entrar nos eixos. As pessoas regressaram aos hábitos normais. Logo, está tudo bem.

Destaco também que nunca fizemos vendas online. Não faço porque tem a ver com o valor. Se eu for a desenvolver esse negócio das vendas online, depois não há braços a medir. Eu vejo muitas pessoas que trabalham na Glovo a virem buscar, por exemplo, uma pasta de dentes ao Continente. Há pessoas que estão em casa e fazem pedidos por tudo e por nada. Então, iriam ligar para pedir 100 gramas de gomas, passado um pouco, mais 50 gramas de gomas e isso não se justifica.

Nós, em épocas festivas como o Natal, Páscoa, Dia da Mãe, Dia do Pai e Dia dos Namorados, fazemos entregas. Mas somos nós, loja, a fazer as entregas. Por exemplo, temos muita gente que está no estrangeiro e que, no Dia da Mãe, gosta de dar uma prendinha à mãe. Por isso, fazem uma encomenda. Como é que isso acontece? As pessoas entram, antecipadamente, em contacto connosco, agendam o dia e a hora e nós vamos levar a encomenda à casa das pessoas.

No Dia dos Namorados também entregamos imensas coisas em casa das pessoas. É uma entrega personalizada. Se não tivermos hipótese de ir, então nesse caso, contactamos nós a Glovo ou outros sítios. Agora, no dia a dia, é um negócio que não dá para ter online. Para nós, seria mais um negócio, eu sei. Mas em dias de, por exemplo, muito movimento, ia ser uma chatice. Seria mais um bocadinho que o cliente teria de esperar. Por isso, no quotidiano, fazemos tudo e as pessoas vêm buscar a encomenda à loja.”

Q: O seu comércio deixa uma marca inovadora na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“O ponto alto de estar na Covilhã é que não há mais nenhuma loja deste género. Há aí lojas que também têm gomas e chupa-chupas, mas não têm esta variedade. Ainda não houve ninguém que abrisse e se especializasse em doces.

Estar no Serra Shopping é outro ponto alto, sem dúvida nenhuma. O facto de estar aqui é que faz deste negócio um sucesso. Para além de se tratar de um ponto estratégico. Esta loja está muito bem localizada. E tem a ver com isso, de estar no shopping. Se tivesse noutro sítio qualquer na rua, não ia ter o sucesso que tenho.

O horário do shopping também é alargado e isso ajuda. Estar sempre aberto, 12 horas por dia. As pessoas já sabem que se vieram, das 10h às 22h, nós estamos abertos. E há a questão da comodidade. A pessoa estaciona o carro e aqui não chove, não há frio, não há calor.

Se o shopping estiver cheio, nós vamos ser das lojas que vão vender mais. Todos os dias há gente no shopping e comprar doces acontece muito por impulso. No entanto, também temos os nossos clientes fidelizados e os que vêm de propósito por causa desta loja. Nas lojas de rua é completamente diferente. O centro da cidade está dinâmico e também há lá gente, mas aqui as pessoas vêm e o facto de estarem num sítio coberto proporciona mais compras.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“Eu acho que nós vamos continuar a crescer. Tem tudo a ver com a mudança de sortido. Nós estamos sempre a mudar as coisas. Estamos sempre à procura de produtos novos. Temos muitas importações e há coisas que só nós é que temos na loja. Portanto, as perspetivas são boas.

Talvez até tenha outra loja no futuro, mas isso está no segredo dos deuses. Sempre foi um objetivo para mim ter duas lojas na cidade. Se calhar, uma próxima com este conceito, e com outra parte desenvolvida que é a parte dos eventos. Como os brindes para os eventos e candy bars, que é coisa que nós já fazemos. Eu acho que isso também é uma parte importante para o negócio. Mas penso que esta loja será sempre a loja número um, atendendo que está no Serra Shopping, muito bem localizada, e de as pessoas já conhecerem. Mas vamos ver como é que as coisas correm.”

Entrevista ao sócio: Silvina Mosa da Bem Me Quer – Arte Floral

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“Já existia uma loja de flores no Serra Shopping. A pessoa que estava com a loja desistiu e eu fiquei com o espaço. Estou cá há cerca de 10 anos. Antes, a loja estava em frente às caixas do Continente e atualmente estamos ao pé da Wells.

A mudança tem, aproximadamente, um ano. Já houve várias coisas neste espaço aberto. Começou por ser um café, depois esteve aqui uma loja de informática, e também um fotógrafo. Portanto, eu espero não seguir as pisadas deles e manter-me ainda aqui uns anos.

Neste negócio, o know-how é importante. As floristas vendem flores. Ponto. Só que depois há uma outra vertente que, nos dias de hoje, quase todas as que estão neste ramo têm, que é a arte floral. É preciso saber fazer. Não é só chegar e pura e simplesmente vender uma rosa, uma gerbera ou uma margarida.

Tenho uma funcionária que já teve uma loja de flores por isso já tem esse know-how. A outra empregada vai aprendendo aqui connosco. Começou basicamente do zero. Tem de aprender a fazer coroas, palmas, bouquets, ramos de noiva, ramos de mão. Ainda que o negócio seja mais venda de flor em si, também é preciso fazer esses arranjos.

Quanto às encomendas, se online me mandarem um email ou uma mensagem no Facebook, WhatsApp ou Messenger, então sim, fazemos. Aquilo que nós não fazemos são envios. Se, por exemplo, alguém do Fundão ou de Castelo Branco me pedir, não envio por correio ou por qualquer transportadora.”

Q: Qual foi o percurso profissional que a levou até aqui?

“Eu não tenho nada a ver com esta área. Comecei a trabalhar na parte têxtil, numa pequena empresa de Representações, de matérias-primas como lãs e poliésteres. Depois trabalhei noutros locais, como a Brimtêxtil. Entretanto, fui despedida.

Até conseguir este negócio não houve um intervalo de tempo muito grande, mas também não foi instantâneo. Não foi sair de um lado e entrar para o outro. Na altura, eu estava à procura de qualquer coisa para fazer e surgiu isto. Não era de todo o que eu estava a pensar que ia fazer. E eu venho de uma área de gestão. O meu objetivo era mais de gestão, digamos assim. Mas sempre gostei de flores. Nunca tinha desenvolvido esse gosto, e então, quando surgiu esta oportunidade, juntou-se o útil ao agradável.

Q: Quais foram os obstáculos que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“Eu pensei que isto fosse mais fácil do que realmente é. Pensei que tivesse outra rentabilidade e que desse para ter mais empregados do que aquilo que tenho. Como estamos no shopping precisamos de, pelo menos, três pessoas para fazer a rotatividade. Os horários são difíceis e ainda estivemos fechados um mês na altura da pandemia.

Neste momento, acho que o obstáculo atual é a economia. Mesmo as pessoas que gostam de ter flores em casa, cada vez levam menos. Eu quando comecei vendia mais flores do que agora. Nota-se que, das pessoas que vêm, das duas uma: ou têm capacidade e poder de compra e então compram alguma coisa, ou focam-se no pequenino, no simbólico. Mesmo nos dias temáticos, como o Dia da Mãe ou o Dia dos Namorados, cada vez mais se verifica que as pessoas escolhem coisas pequeninas, só para marcar a data. Quanto muito, também se nota a diferença com os imigrantes que chegam e têm uma noção distinta em relação ao dinheiro.

Para nós, uma situação de exemplo são a flores artificias. Nós vendemos, porém não vendemos para decorativos. É mais para cemitérios. O Gato Preto agora mudou um pouco o conceito, mas eles tinham bastantes flores desse género. E é difícil concorrermos com uma mega empresa.

Depois ainda está o IVA. Nesta área trabalhamos com dois. Quando só vendemos plantas e flores, temos uma taxa que é a de 6%. Desde que a gente faça um arranjo, é 23%. É uma diferença enorme e as pessoas não entendem. Essa parte também não nos ajuda de maneira nenhuma.”

Q: O seu comércio criou raízes na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“Pelo que eu tenho notado, com a exceção das floristas antigas que trabalham há muitos anos, não resistiu nenhuma das floristas novas que se estabeleceram na rua. É verdade que as despesas de estar num shopping são muito maiores do que na rua. Mas creio que é preferível pagar essas despesas e estar num sítio onde as pessoas vêm. O conceito do shopping é esse. O horário, como é alargado, dá para toda a gente. Há os que podem a certas horas, outros não podem. Há os que vêm à noite. Por isso, há sempre movimento. E o shopping já está praticamente integrado na cidade.

Em termos de negócio, aqui não funcionamos muito com a compra por impulso. Eventualmente, um namorado ou outro que vá ao cinema passa por aqui e compra uma rosa. Mas isso é relativo. As pessoas que vêm aqui aparecem de propósito para comprar algo. Por exemplo, quem tem de ir a um funeral, vem aqui à florista e sabe que encontra o que precisa. A título de curiosidade, no quotidiano da Bem Me Quer o que se vende mais são as plantas em vaso. É o mais comum. As pessoas preferem porque duram mais, mesmo que morram. Inclusive para oferecer.

Há também pessoas que gostam de ter flores em casa, não apenas plantas. Flores para por na jarra, para fazer um centro de mesa. Normalmente, as pessoas levam porque têm um jantar lá em casa ou uma ocasião especial. Este mês que passou, por exemplo, houve muitas Comunhões.

Um ponto alto são os clientes que vêm cá todos os anos, mesmo no Dia da Mãe, no Dia dos Namorados, etc. São clientes que gostam do nosso trabalho, mas também que gostam do shopping. Pessoas que vêm aqui e compram basicamente tudo o que precisam, desde produtos de hipermercado até ao vestuário. Vêm aqui não só porque lhes dá jeito, mas também porque sabem que ficam bem servidos. Há outros clientes que são passageiros.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“É manter a atividade. Para já, também não está nos meus planos mudar para um espaço fechado. Aliás, eu saí de um espaço fechado para vir para aqui. Primeiro, por uma questão de área e de renda. Segundo, nem todas as lojas estão adaptadas com água. E nós precisamos de água para trabalhar. Se pudesse escolher outro sítio queria a entrada porque tem mais impacto. Há muito mais movimento daquele lado do que aqui. Mas lá não há esta particularidade, não existe um espaço com água.

Os planos também não envolvem crescer porque não temos por onde nos expandir, nem temos população para tal. Por isso é mesmo manter. É claro que o negócio podia ser melhor, como já foi há uns anos atrás, mas as perspetivas não são essas.

Se a economia mudar, eventualmente o comportamento e a atitude das pessoas das pessoas também mudará. Por exemplo, tradições que já se traziam, como as flores nos funerais e nos casamentos, essas também se estão a perder. Mesmo a nível dos casamentos, há os que são grandes, pomposos e há os que são minimalistas. Estamos a falar numa classe média que abdica desse tipo de coisas, ou então vai para algo mesmo minimalista, como um raminho de noiva ou umas coisinhas nas mesas.

As pessoas com poder de compra, que podem dar nas vistas, têm capacidade e fazem coisas em grande. Os pequeninos não. A maioria das pessoas gosta muito de flores mas não é um bem essencial. Não têm nem compram mais flores porque é um bem do qual se pode abdicar. No dia a dia são poucas as pessoas que levam flores para casa.

Felizmente, temos clientes fidelizados que vêm cá porque gostam. Nem todos os clientes são propriamente anónimos, não é? Há clientes que, graças a Deus, já conheço bem. E vêm quando precisam, seja para um funeral, para um aniversário, ou para outra ocasião.”

Entrevista ao sócio: Marisa Pires da Loja Marisa MYP

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“Eu trabalhei num pronto-a-vestir há alguns anos e na última loja onde eu estive, passei lá 10 anos. Fui sempre gerente de loja. Entretanto, tive a minha filha. Surgiu aí um conflito porque eles tentaram obrigar-me a deixar de lhe dar a mama. Eu disse que não era algo que eu abdicava, que era um direito meu. Isso foi-se arrastando dois anos. Ao fim de dois anos, eles obrigaram mesmo. Ou seja, como viram que foram falando e eu nunca cedi, vieram e meteram-me entre a espada e a parede. Chegaram a dizer que tinha mesmo de deixar de dar a mama, senão mandavam-me embora. E eu disse para me mandarem embora. Eles ficaram à toa, mas não puderam voltar atrás. Pagaram-me a minha indeminização, todos os meus direitos e não ficaram a dever nada.

Foi aí que decidi abrir uma loja. Isto porque o meu namorado já tinha uma loja de roupa e ele ia fechar. Então, perguntei-lhe sobre a possibilidade de abrirmos numa vertente mais senhora, visto que a loja dele era de homem. E pensei que podíamos abrir mais para o centro da cidade, porque a loja dele também estava mais desviada. Tentámos encontrar uma loja com uma melhor posição em termos de clientes. Especificamente, no centro histórico da Covilhã e com roupa de senhora, porque parecendo que não, o público-alvo das lojas de roupa são as senhoras. Eu já trabalho há muitos anos com roupa e sei que as senhoras são mais consumistas do que os homens. Contudo, destaco que aqui a loja inclui tamanhos grandes e também roupa para homem.

Portanto, abri a loja mesmo naquela situação de «tu és maluca, no meio da pandemia, onde está tudo a fechar, onde as pessoas não sabem no que é que vai dar». Foi um risco, sim, e eu arrisquei. Hoje estou super feliz. Quanto ao horário, fizemos uma experiência e estamos abertos à hora de almoço. Das 10h às 18h durante a semana e das 10 à 13h no sábado. Domingo é o nosso dia de descanso.

O aniversário da loja também se está a aproximar. Abrimos a loja no dia 1 de julho do ano passado e vai agora fazer um ano. Para comemorar o dia, decidimos preparar um evento. Supostamente, nós fazemos um ano no dia 1 de julho, mas como é um sábado e fim de semana, sabemos que nem toda a gente pode vir e usufruir do evento. Então, escolhemos comemorar no dia 3 de julho, que é segunda-feira. Vamos ter aqui uns comes e bebes e ainda não sabemos se vamos colocar algum miminho para os clientes – isso nós queríamos por só mesmo no dia. As pessoas depois logo veem o que é que podem encontrar.

Em princípio, o corte do bolo será por volta das 14h/15h. É um evento especial e aberto a toda a gente que quiser aparecer. O cartaz do evento será publicado na nossa página de Facebook.

Q: Qual foi o percurso profissional que a levou até aqui?

“Eu sou licenciada em Educação de Infância. Mal tirei o curso, fui logo procurar trabalho. Isto porque ainda não tinha chegado o período de setembro para ingressar na área de educação. Fui a uma empresa lá na Guarda, a W52, que ainda existe atualmente. Foi nessa loja que comecei a trabalhar e adorei a experiência.

Um dia, a responsável da loja disse que eu tinha de fazer uma parede, sendo que cada funcionária tinha uma para fazer. Foi para nos testarem. Eu nunca tinha trabalhado com roupa, por isso foi engraçado que, enquanto nenhuma delas conseguiu fazer uma parede, eu fiz uma parede e uma mesa. A responsável chegou ao pé de mim e disse: «Parece que já trabalhas há anos nisto, Marisa.» E eu fiquei a pensar que, se calhar, tenho mesmo queda para isto. Se calhar é algo que nasce connosco. Depois, dois anos mais tarde, pedi transferência da loja da Guarda para a Covilhã, onde passei 10 anos.

Para além disso, também cheguei a trabalhar como Educadora numa creche da Guarda. Depois surgiu uma situação. Eles não me queriam pagar o valor de licenciada. Em vez disso, queriam pagar-me o valor de auxiliar. E eu disse que não porque sou uma licenciada, por isso, só tenho de receber o que qualquer licenciado recebe. Então, decidi sair e entrar na área da logística, o que adorei. Eu identifico-me mesmo com isto. Tanto que eu, quando me vim embora da empresa onde estava, podia ter apostado na minha área de Educadora e não o fiz porque me sinto mesmo realizada a trabalhar numa loja de roupa.

Nós temos de nos sentir felizes a fazer o que gostamos. E atenção, eu adoro a minha área. Eu adoro crianças. Os pais, na creche, até fizeram abaixo-assinado para eu poder lá ficar. Mas é como eu costumo dizer, às vezes temos de juntar o útil ao agradável. E com as crianças é preciso ter-se muito mais responsabilidade. Na loja fazemos o que gostamos e não estamos a educar nem a ajudar crescer um ser em que as bases somos nós que as temos de introduzir. A loja é um trabalho mais leve. Faz-se de outra maneira e eu adoro o contacto com o público.”

Q: Quais foram os obstáculos ultrapassados que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“Eu vivo o dia a dia, não penso nessas coisas. Prefiro não pensar, mesmo quando foi a época da pandemia. Se fosse assim, eu nunca teria aberto a loja. Eu foquei-me em abrir e realizar o meu sonho.

Contudo, houve um obstáculo. Quando abrimos a loja, criámos uma página no Facebook. Chegámos a ter duas mil pessoas a seguir a página da loja e estava tudo bem. Até que houve um dia, cerca de dois meses depois, em que chegámos à página para fazer uma publicação e apercebemo-nos que não tínhamos página. O que é que aconteceu? A explicação que o Facebook nos deu foi que fomos bloqueados. Agora se foi uma denúncia, se foi uma acusa, não sei. Mas foi complicado. E vou ser sincera, fiquei frustrada nesse aspeto.

Eu não desejo mal a ninguém, não me meto no trabalho de ninguém e o que me deram a entender foi que alguém fez alguma denúncia para nós ficarmos sem a página. Mas não fomos abaixo e isso ainda nos deu mais força. Hoje, eu orgulho-me porque se isso não me deitou abaixo, mais nada me vai deitar abaixo.

Logo no dia a seguir ao ficarmos sem página, decidimos fazer uma nova. Mas ficámos sem nada do que tínhamos até esse momento. Agora a questão é que, quando pergunto às pessoas se seguem a nossa página, elas dizem-me que já seguiam. Ou seja, elas pensam que seguem a antiga e estão com a consciência tranquila, mas já não seguem nenhuma porque a antiga foi bloqueada. Por isso é que algumas pessoas me informavam que não lhes aparecia nada dos artigos. Lá está, porque não sabiam que há uma nova página. Há muita gente que já aderiu novamente, mas há outras pessoas que ainda não sabem que isso aconteceu.

Em relação às outras lojas, não invejo o que as pessoas compram. Não critico. Cada um tem de comprar onde se sente bem. Isso é o meu lema. Eu tenho clientes que são amigas e que me dizem que foram comprar tal artigo a tal loja. Por mim tudo bem. Compram aqui um casaco, ali compram uma calça. Vão a outra loja e compram uma t-shirt. Assim são todos ajudados. Para estarmos cá hoje, se não formos ajudados e se os clientes não forem comprando, as lojas fecham. E a coisa mais bonita que há é chegar, por exemplo, aqui ao Pelourinho e ver as lojas abertas como estão agora.”

Q: O seu comércio deixa uma marca inovadora na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“Eu gosto da cidade da Covilhã. Eu sou da zona da Guarda, tirei o curso na Guarda e também trabalhei em lojas da Guarda. Quando decidi vir para a Covilhã, as lojistas da Guarda disseram-me: «Marisa, onde é que tu te vais meter? Tu queres ir para a Covilhã? As pessoas lá são todas de nariz empinado, só têm mania e se as virares ao contrário nem um cêntimo lhes cai do bolso.» Nunca me esqueço desses dizeres das senhoras da Guarda. Era a opinião delas, mas eu quando vim não conhecia a Covilhã. Então eu ficava a pensar sobre onde realmente me ia meter. Mas agora já sei e não tenho nada a dizer das pessoas da Covilhã. Aliás, muito pelo contrário. Eu fiz muitas amizades aqui na cidade. Posso dizer que eu não tenho aqui família, mas sinto-me como se estivesse em casa. Eu adoro as pessoas daqui, elas acarinham-me imenso.

O que eu penso é que se as pessoas não gostassem de mim, não tinham vindo comigo. E as pessoas vieram. É também o facto de eu passar na rua e as pessoas falarem-me. Eu conheço muita gente graças ao ter uma loja aberta. É o ramo em que eu ingressei, do atendimento ao público. Mas as pessoas não são todas iguais. Eu tenho que me adaptar a cada uma. Há pessoas que têm de ser atendidas de maneira diferente. Com o tempo, nós temos de saber com quem estamos a lidar. E se uma quer ser atendida de uma maneira, isso não quer dizer que a outra seja atendida da mesma.

Também reconheço que tive uma vantagem em abrir aqui a loja. Eu já trouxe a carteira de clientes que eu tinha de onde estava a trabalhar. É como eu costumo dizer, quem faz a loja não é a roupa que lá há, é o cliente que lá está. As pessoas iam lá por nós. Elas iam por mim. Não pelo que lá havia. Elas diziam-me: «Marisa, se abrires noutro lado, nós vamos atrás de ti.» Na altura, pensei que não era verdade e que era só o que elas diziam. Mas não, aconteceu mesmo. Ou seja, desde que eu tenha a loja aberta, elas vêm aqui. O que me explicaram é que tinham de comprar roupa na mesma, por isso se puderem comprar com a pessoa que estão habituadas e que gostam, então não vão a outro sítio, onde não conhecem a pessoa.

A localização também é ótima. Ao termos aberto aqui no Pelourinho estamos perto de tudo. Estamos perto dos CTT, o que traz muita gente. Estamos também perto da Câmara Municipal. É um sítio espetacular, não estou nada arrependida. Portanto, tudo isso ajuda a que estejamos bem no trabalho.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“A minha perspetiva é mesmo viver um dia de cada vez. Não sei o que se vai passar daqui a um ano ou dois. A verdade é que, ao vivermos um dia de cada vez, vivemos as coisas com uma mente muito mais aliviada. Se nós estamos a pensar no que é que vai acontecer daqui a um mês ou daqui a um ano, nós não vivemos nem desfrutamos da mesma maneira. Ficamos presos ao «e se isto fica pior? E se depois se não há dinheiro?» Não, eu prefiro viver com a consciência tranquila de que estou a fazer um trabalho que me realiza. Um trabalho que eu vejo que ajuda muita gente, até porque muitas pessoas vêm aqui para desabafar. Muita gente, por causa da pandemia, ficou sem trabalho ou com depressões.

Há muitas pessoas que eu vejo aqui que não tem ninguém para conversar. É triste, mas é verdade. E nós, ao estarmos aqui, estamos a ajudar o cliente a exprimir-se e a aliviar um bocadinho. Ao mesmo tempo, o cliente vem e acaba por levar um artigo. Ou seja, estamos a ajudar nos dois sentidos. A pessoa sai daqui com a mente mais aliviada porque desabafou e também acaba por ir bonita e feliz porque leva uma peça de roupa nova, um miminho para ela. Isso é que é bonito. Não é o tentarmos impingir, o estarmos aqui a tentar obrigar a pessoa a comprar algo. Não gosto disso. E o facto de estarmos aqui é viver um dia de cada vez, fazermos o que gostamos com carinho, com amor, porque assim as coisas saem de forma diferente.

E eu só espero que a loja continue a estar presente daqui a uns anos. É só isso. Se estiver de pensar no futuro, é com o desejo que hajam mais aniversários.”

Entrevista ao sócio: Manuel Prates da SP4S

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“Começou com um franchising da Just 4 Kids. Quando esse franchising terminou, surgiu a necessidade de procurarmos outros fornecedores e conceitos para manter a loja aberta. Esta loja abriu em 2000 e, inicialmente, era exclusivamente Just For Kids. Em 2008, sensivelmente, é que passou para o nome da empresa que eu tenho registado.”

Q: Qual foi o percurso profissional que o levou até aqui?

“Foi uma coincidência. Eu sou alentejano, mas vivia em Lisboa. Trabalhava numa multinacional, enquanto a minha mulher é da Covilhã e tinha entrado para o hospital daqui como médica. O que aconteceu foi que que eu tive uma situação com o diretor geral da empresa onde estava e resolvi mudar de vida.

Houve depois um dia em que cheguei a uma papelaria, lá na zona onde vivia, vi o franchising da Just 4 Kids, e como tinha tido uma filha há pouco tempo, optei por abrir uma loja da Just 4 Kids. Foi a primeira que abriu no interior. Senti que havia falta no mercado de uma loja específica para crianças. Mais tarde acabámos por tomar outros rumos, como a parte do escritório e da iluminação.”

Q: Quais foram os obstáculos ultrapassados que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“Os obstáculos é que aqui o mercado é muito pequeno. Pensava que esta zona ia ter uma dinâmica completamente diferente, fruto da A23, da Faculdade de Ciências da Saúde, da UBI, de uma série de coisas. Pensava que viriam, com certeza, mais empresas, mais pessoas. Mas não foi assim que aconteceu. A perspetiva não coincidiu com a realidade. Daí a necessidade de não estarmos limitados à loja e de termos contactos no exterior.

Outro aspeto é a localização. Na altura, quando eu vim para a Covilhã, por volta de 1999/2000, não se sabia ainda do Serra Shopping. Pelo menos, não se sabia em termos de quem não era de cá.

No entanto, a loja, ao estar em frente ao hospital e ao lado do estabelecimento do McDonald’s tornou-se uma zona de fácil identificação e de melhor acesso. Na altura não havia McDonald’s em outras zonas do interior a não ser na Covilhã. Eu estava num local muito fácil de localizar, sendo que o meu objetivo não era só a população da Covilhã, mas também todos os arredores, como Guarda, Castelo Branco, Pinhel, Bragança.

O que dificulta um pouco o acesso são as pessoas que estacionam aqui para ir para o hospital. Bloqueiam o estacionamento, pelo menos durante as horas mais nobres de trabalho no hospital.”

Q: O seu comércio criou raízes na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“Eu não vivo aqui na Covilhã. Eu vivo em Castelo Branco. Os pontos altos não são muitos porque a adesão das pessoas, de facto, tem sido baixa. Portanto, não posso dizer que hajam muitos pontos altos em relação à loja em si.

Já a cidade tem, efetivamente, um ambiente estudantil proporcionado pela UBI. Eu espero que seja um pólo galvanizador e que traga muitas pessoas a viver cá. Por isso, eu considero a UBI como o ponto alto da Covilhã.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“Nós tentamos dinamizar a loja, criando um novo lettering, um novo visual, uma nova iluminação com LEDs, aproveitando o Programa Transformar Comércio, que houve por causa dos incêndios. Aproveitámos para remodelar um pouco a loja e torná-la mais apelativa. Quanto à divulgação, temos uma carrinha que nos faz as entregas e que faz publicidade à loja junto à estrada mais movimentada da Covilhã que é a avenida Alameda Pêro da Covilhã.

Para além disso, temos o site, a loja online. O objetivo é aproveitarmos tudo para chegarmos a mais clientes, não só os que nos visitam fisicamente mas também os que nos visitam eletronicamente.”

Entrevista ao sócio: Isabel Ramalho da Sapataria Bellinha

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“Eu trabalhava no ramo da sapataria, aqui ao lado no shopping, até que fomos para o desemprego devido à crise de há 10 anos. Ao fim de dois anos resolvemos abrir. Não havia cá nenhuma sapataria e não havia muitas sapatarias na Covilhã, então decidimos apostar na continuação. No recomeçar e na criação do próprio negócio.

A razão de se chamar Sapataria Bellinha é porque eu sou Isabel e a minha mãe era Gabriela. Nós inicialmente abrimos em nome da minha mãe: Gabriela Ramalho. Toda a gente a tratava por Bela. Eu tenho amigos que me tratam por Belinha, então ficou Belinha por causa disso. Houve uma discussão em família e ficou esse nome por quase unanimidade.

A sapataria Bellinha abriu há sete anos. Nós começámos no Centro Comercial da Estação, sendo que estivemos lá cinco anos. E estamos há três anos no Serra Shopping. Inicialmente, durante 4/5 anos, o foco foi só mesmo o calçado. Quando estávamos no Centro Comercial da Estação ainda chegámos a ter outros produtos, mas era uma minoria. Não podíamos ter muitas peças porque a loja também não era grande. Posteriormente, quando viemos para o Serra Shopping, já foi possível aumentar o número de peças. E começámos com a roupa por causa da marca da Cristina Ferreira, para continuarmos com a representação na Covilhã. As representações são importantes. Sermos os únicos a vender a marca na cidade. Na altura foi-me sugerido ficar com a marca da roupa e como eram poucas dava para expor na loja. Depois fomos juntando uma peça ou outra e quando viemos para aqui ficámos com outra marca: a FOURSOUL.”

Q: Qual foi o percurso profissional que a levou até aqui?

“Eu sempre trabalhei e estudei. Trabalhei na sapataria durante muitos anos e também trabalhei como rececionista. Sempre no atendimento ao público. Pode-se dizer que há esse bichinho. Eu também tenho um mestrado em gestão, o que me dá jeito para a loja. Quando acabei o mestrado, eu já não tinha idade para trabalhar na área porque eu tinha entrado para a universidade com 30 anos. Na área da banca, é só até aos 30. Por isso utilizo os conhecimentos de gestão para as coisas do dia a dia da loja e para as contas. Por exemplo, quando vai para a contabilidade já sei o IVA que tenho de pagar.”

Q: Quais foram os obstáculos que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“Obstáculos há sempre. Durante um ano ainda tivemos a loja do Centro Comercial da Estação e esta do Serra Shopping em simultâneo, mas depois veio a pandemia e agora só estamos aqui no shopping. O COVID-19 veio dar cabo de muitos negócios e, no meu caso, foi complicado sustentar duas funcionárias.

Na atual localização, um aspeto negativo são os custos inerentes de ter a loja aberta 12 horas por dia, incluindo fins de semana. Além do COVID-19, a guerra é outro dos obstáculos. O aumento do preço generalizado do calçado e dos materiais de calçado, que nos afeta tanto na compra como na venda. Há aqui modelos que aumentaram muito em termos de preço de venda final.

Também há a questão da concorrência. Os chineses, as vendas online. Não me estou a referir às vendas online que têm um negócio por trás e pagam os seus impostos, estou a falar das vendas online que não estão registadas nas Finanças. Acabam por comprar mercadoria sem faturas, vendem e tudo é bom. Não pagam Segurança Social, não pagam IVA, não pagam nada. Isso é um grande obstáculo que nós estamos a enfrentar neste momento.”

Q: O seu comércio deixa uma marca inovadora na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“A Covilhã é uma cidade do interior. Temos é a Universidade da Beira Interior, que é um ponto forte. Trata-se de uma cidade turística, com um ponto de passagem para a Serra da Estrela.

O Serra Shopping também é um ponto de passagem. O Centro Comercial da Estação não. É mais recatado. Contudo, no Serra Shopping, as pessoas vêm nem que seja para tomar um café ou para vir almoçar e acabam sempre por dar uma voltinha, o que se traduz depois em algumas vendas. Eu tenho clientes que não me conheciam da Estação e são cá da Covilhã. Porque eles não iam ao Centro Comercial da Estação. Logo, ter vindo para aqui também foi uma forma de me dar a conhecer.

Os imigrantes e os turistas, na época das férias e do Natal também são uma mais-valia. Apesar de, ultimamente, já não virem tanto com o poder de compra que tinham há uns anos atrás, nomeadamente os franceses. Mas sim, eles gostam de comprar o que é português, o que é bom para nós.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“Eu tenho muito medo do futuro por causa da crise que estamos a passar. As rendas aumentaram e o nível de vida em si aumentou. Um casal que vive com esses rendimentos vai pensar duas vezes em relação aos excessos, como um par de sapatos, um vestido ou uma camisola. Acho que vamos sentir mais os efeitos desta crise no final deste ano e princípio do ano que vem.

Já na sapataria, os pontos que nós marcamos sempre, como comércio tradicional, são o atendimento personalizado, a qualidade e a diferenciação. É algo que digo às minhas colaboradoras: atendimento personalizado ao máximo. É claro que, se houver muitas pessoas, é mais difícil. Mas se houver uma ou duas pessoas, tentar dar o melhor atendimento possível. Depois, também temos aquelas clientes que se tornam amigas e que tratamos pelo nome. Elas vêm ver, passear, conversar e o comércio tradicional acaba por incluir essa parte do convívio, da amizade. Há essa proximidade com os clientes.

A diferenciação passa por termos produtos que não se encontram por aí. São mais caros, mas depois as pessoas têm aquela diferenciação em termos de qualidade. A qualidade paga-se.

Quanto às perspetivas para o futuro da loja, vamos continuamos a apostar nas vendas online e na divulgação. Todos os dias atualizamos a página do Facebook com as novidades e as promoções. As vendas online foram uma aposta que fiz desde o início. E na pandemia foi o que nos ajudou. Com as lojas fechadas, foi o online que minimizou a crise e permitiu pagar as contas. Atualmente, há dias aqui em que não se passa nada e online até se vende bem. E há dias em que trabalhamos na loja e online não acontece nada. Mas todos os dias sai, no mínimo, uma encomenda.

As encomendas têm um critério: na nova coleção há sempre oferta de portes. Quando estão com 40%, 50% ou 60% de desconto já não. Destaco também que há pessoas da zona que encomendam e depois vêm buscar à loja e outras que não são da região. Há as que são sempre novidade e as que já são fidelizadas, inclusive nas ilhas. Neste momento, as vendas online são, mais ou menos, 30-40% e 60-70% são as físicas. O que é bom.”

Entrevista ao sócio: João Fernando Martins Pereira da Óptica São Vicente

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“À data de 1962, eu era funcionário da Ourivesaria Meruje. Nessa altura, constituímos uma sociedade destinada à exploração do ramo da ótica. Passados 10 anos, dissolvemos a sociedade e eu fiquei com todos os ativos e passivos. Antigamente era Meruje & Companhia e depois passei a laborar em nome individual: João Fernando Martins Pereira. A partir daí, o negócio desenvolveu-se em várias vertentes, tendo primeiro começado pela ótica e ourivesaria e depois apenas ótica.

A primeira morada foi na Rua Conselheiro António Pedroso Santos e depois na Rua Ruy Faleiro, dois ou três anos até, possivelmente, 1968. Daí em diante, passou para o centro histórico ao pé do Solneve até há cerca de 20 anos atrás, quando fizemos este prédio. E aqui estamos.

Também temos um estabelecimento na parte de baixo, na Avenida da Anil, que tem o intuito de dar assistência aos meus clientes que não podem vir cá a acima ao Pelourinho. Mantenho essa loja aberta há 11 anos e é tudo em propriedades minhas, portanto não tenho alugueres.”

Q: Qual foi o percurso profissional que o levou até aqui?

“Em 1959, especializei-me em ótica na cidade de Lisboa. Desde então, tenho frequentado imensos cursos de atualização de ótica. Fiz o curso de Técnico de Ótica Ocular através da Associação Nacional dos Ópticos em 1978/79, no então Instituto Politécnico da Covilhã. Depois fiz o curso de Optometria na Escola Portuguesa de Óptica Ocular, em Lisboa. Foi um curso de 4 anos.

A minha atividade também se desenvolve além do meu trabalho na ótica. Envolve simpósios, congressos, desde Estados Unidos, França e Bélgica, nomeadamente ligado à parte das lentes de contacto, como cursos técnicos.”

Q: Quais foram os obstáculos ultrapassados que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“Os obstáculos foram imensos. No início, haviam três óticas na Covilhã. Dessas três óticas, duas delas já eram muito antigas e foi muito difícil de singrar por intermédio delas, mas valeu-nos a preparação que já trazíamos, tanto na parte técnica como na parte humana. Hoje em dia, o negócio é mais complicado porque a população não aumentou. Acho que, pelo contrário, diminuiu.

A Covilhã tinha, na altura, uma grande indústria. Esta era a cidade Manchester, cheia de indústrias de lanifícios, que finalizou nos anos de 1975/76 após a Revolução de 25 de Abril de 1974. O comércio tornou-se muito difícil. Contudo, aproximou-se uma época que, para nós, foi a época dourada. Falo da época da imigração.

Apesar da inflação tremenda, havia dinheiro, os imigrantes vinham e gastavam esse dinheiro em tudo. Por isso foi a época dourada para o comércio. A partir daí, fizemos uma boa passagem na vida.

Hoje há outros obstáculos. Em vez de duas/três óticas como existiam no passado, estão dezasseis ou dezassete para uma população menor e com menos recursos económicos. Portanto, é muito difícil ter sucesso.”

Q: O seu comércio criou raízes na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“Bom, eu sou covilhanense. Não me sentia bem em estar em qualquer lado. Eu estive vários anos em Lisboa e não me sentia bem. A minha terra é a minha terra. Obviamente que fui tratado gentilmente por todos os meus conterrâneos e como singrei aqui, por aqui em princípio vou ficar.

O meu comércio têm, efetivamente, 61 anos de vida, sendo que a minha atividade de comércio já é pouca e é mais na questão de orientação. Eu espero que os meus seguidores consigam levar isto à frente durante mais uns anos, pelo menos.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“O futuro é muito difícil de prever. Está condicionado ao que os grandes investidores nos impõem. O comércio tradicional está em grande baixa, nomeadamente no centro, mas também nos arrabaldes. Portanto, nas partes baixas o comércio tradicional, o comércio de rua, também não tem muitas hipóteses. As grandes firmas levantam-nos problemas tremendos, em particular problemas a nível económico.

Tudo vai depender da maneira em que consigamos alojar esse tal futuro, para que o negócio se consiga novamente viabilizar. Um negócio que se faz hoje não é igual a um que se fazia há uns anos atrás. Hoje as publicidades são tremendas e os grandes espaços, as grandes empresas/grupos têm poderes económicos que nós não temos para puderem singrar.”

Entrevista ao sócio: Marina Lameira do Grupótico Covilhã – Óptica Covilhanense

Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“Esta ótica já existia. Foi fundada em 1987, salvo erro. Eu trabalhava noutro estabelecimento e depois fiquei com esta para trabalhar à minha maneira e evoluir. Não quis abrir mais uma ótica. Preferi pegar numa e torná-la um bocadinho melhor. E portanto, estamos abertos desde julho de 2019.”

Q: Qual foi o percurso profissional que a levou até aqui?

“Eu trabalho desde 2006. Comecei a trabalhar ainda sem ter terminado o curso. Na altura, o meu curso era de cinco anos e tinha estágio integrado. Eu fiquei com uma cadeira pendurada e por essa razão quis arranjar emprego. Estava à procura de alguma coisa para me ajudar a pagar propinas, como qualquer jovem faz. Acabei por conseguir arranjar no ramo da ótica e fiquei nesse trabalho durante 13 anos.

Atualmente estou a trabalhar por minha conta. Acho que se chega a uma altura em que queremos trabalhar como nós gostamos e tomar as nossas próprias decisões. Quando somos funcionários de alguém, muitas das vezes temos que nos orientar pelas ordens que temos. Foi por isso que eu decidi deixar de estar a trabalhar para alguém e começar a trabalhar por conta própria.

Em relação ao curso, porque é que eu escolhi optometria? Eu queria alguma coisa que tivesse relacionada com saúde. A optometria chamou-me à atenção e foram as duas primeiras opções que concorri, para a Universidade de Braga e para aqui. Eu sou do Norte, de Monção, mesmo perto da fronteira com a Espanha. Acabei, depois, por aterrar na Covilhã e há 23 anos que estou cá.”

Q: Quais foram os obstáculos ultrapassados que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“Um dos problemas foi a localização. A rua é a mesma, mas estávamos no 121 e tivemos que mudar para aqui, no 109. Houve uma situação com o bar fora de horas, que era por cima. Eles abriam sempre quando queriam. Basicamente, eu fiz ali um investimento não assim tão pequeno e tive de voltar a fazer no ano passado.

Para além disso, houve a pandemia. Abrimos em julho de 2019 e a pandemia foi em 2020/2021. Digamos que não foi a melhor altura para abrir. Nós tivemos dias em que foi preciso ficarmos fechados. Também reduzimos imenso o horário. Vínhamos às 10h30 e fechávamos às 17h. Eu e a minha colega, a Dra. Verónica, vínhamos trabalhar alternadamente. Não foi fácil e não é fácil, mas estamos cá para trabalhar.”

Q: A sua ótica deixa uma marca inovadora na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“Principalmente, o ponto alto é as pessoas conhecerem-se quase todas umas às outras. É como se fosse uma aldeia grande. Uma pessoa sai de manhã de casa e diz «olá, bom dia» a toda a gente e isso depois reflete-se no negócio. As pessoas vêm cá porque nos viram, nos conhecem daqui das redondezas e passam a palavra num meio pequeno, o que é ótimo. Acho que é a grande vantagem de ser uma cidade pequena. Desde que se faça um bom trabalho, o passa-a-palavra é excelente.

A Covilhã também é uma cidade pequena e tem tudo o que a gente precisa. É tranquila, calma. E acho que é uma boa cidade para se constituir família.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“Em relação à ótica, eu quero cada vez mais melhorar este espaço em termos de máquinas e de especialização, ou seja, dentro da optometria. Há muitas lacunas, digamos assim, aqui na Covilhã. Há falta de muitas vertentes de optometria e há muitas que podemos melhorar. Não sou uma pessoa que pretende abrir outras lojas. Não, muito pelo contrário. Quero manter esta e melhorá-la no sentido de adicionar mais serviços e de apostar no melhor atendimento.”