Entrevista ao sócio: Marisa Pires da Loja Marisa MYP


Q: Pode contar a história por detrás do seu negócio?

“Eu trabalhei num pronto-a-vestir há alguns anos e na última loja onde eu estive, passei lá 10 anos. Fui sempre gerente de loja. Entretanto, tive a minha filha. Surgiu aí um conflito porque eles tentaram obrigar-me a deixar de lhe dar a mama. Eu disse que não era algo que eu abdicava, que era um direito meu. Isso foi-se arrastando dois anos. Ao fim de dois anos, eles obrigaram mesmo. Ou seja, como viram que foram falando e eu nunca cedi, vieram e meteram-me entre a espada e a parede. Chegaram a dizer que tinha mesmo de deixar de dar a mama, senão mandavam-me embora. E eu disse para me mandarem embora. Eles ficaram à toa, mas não puderam voltar atrás. Pagaram-me a minha indeminização, todos os meus direitos e não ficaram a dever nada.

Foi aí que decidi abrir uma loja. Isto porque o meu namorado já tinha uma loja de roupa e ele ia fechar. Então, perguntei-lhe sobre a possibilidade de abrirmos numa vertente mais senhora, visto que a loja dele era de homem. E pensei que podíamos abrir mais para o centro da cidade, porque a loja dele também estava mais desviada. Tentámos encontrar uma loja com uma melhor posição em termos de clientes. Especificamente, no centro histórico da Covilhã e com roupa de senhora, porque parecendo que não, o público-alvo das lojas de roupa são as senhoras. Eu já trabalho há muitos anos com roupa e sei que as senhoras são mais consumistas do que os homens. Contudo, destaco que aqui a loja inclui tamanhos grandes e também roupa para homem.

Portanto, abri a loja mesmo naquela situação de «tu és maluca, no meio da pandemia, onde está tudo a fechar, onde as pessoas não sabem no que é que vai dar». Foi um risco, sim, e eu arrisquei. Hoje estou super feliz. Quanto ao horário, fizemos uma experiência e estamos abertos à hora de almoço. Das 10h às 18h durante a semana e das 10 à 13h no sábado. Domingo é o nosso dia de descanso.

O aniversário da loja também se está a aproximar. Abrimos a loja no dia 1 de julho do ano passado e vai agora fazer um ano. Para comemorar o dia, decidimos preparar um evento. Supostamente, nós fazemos um ano no dia 1 de julho, mas como é um sábado e fim de semana, sabemos que nem toda a gente pode vir e usufruir do evento. Então, escolhemos comemorar no dia 3 de julho, que é segunda-feira. Vamos ter aqui uns comes e bebes e ainda não sabemos se vamos colocar algum miminho para os clientes – isso nós queríamos por só mesmo no dia. As pessoas depois logo veem o que é que podem encontrar.

Em princípio, o corte do bolo será por volta das 14h/15h. É um evento especial e aberto a toda a gente que quiser aparecer. O cartaz do evento será publicado na nossa página de Facebook.

Q: Qual foi o percurso profissional que a levou até aqui?

“Eu sou licenciada em Educação de Infância. Mal tirei o curso, fui logo procurar trabalho. Isto porque ainda não tinha chegado o período de setembro para ingressar na área de educação. Fui a uma empresa lá na Guarda, a W52, que ainda existe atualmente. Foi nessa loja que comecei a trabalhar e adorei a experiência.

Um dia, a responsável da loja disse que eu tinha de fazer uma parede, sendo que cada funcionária tinha uma para fazer. Foi para nos testarem. Eu nunca tinha trabalhado com roupa, por isso foi engraçado que, enquanto nenhuma delas conseguiu fazer uma parede, eu fiz uma parede e uma mesa. A responsável chegou ao pé de mim e disse: «Parece que já trabalhas há anos nisto, Marisa.» E eu fiquei a pensar que, se calhar, tenho mesmo queda para isto. Se calhar é algo que nasce connosco. Depois, dois anos mais tarde, pedi transferência da loja da Guarda para a Covilhã, onde passei 10 anos.

Para além disso, também cheguei a trabalhar como Educadora numa creche da Guarda. Depois surgiu uma situação. Eles não me queriam pagar o valor de licenciada. Em vez disso, queriam pagar-me o valor de auxiliar. E eu disse que não porque sou uma licenciada, por isso, só tenho de receber o que qualquer licenciado recebe. Então, decidi sair e entrar na área da logística, o que adorei. Eu identifico-me mesmo com isto. Tanto que eu, quando me vim embora da empresa onde estava, podia ter apostado na minha área de Educadora e não o fiz porque me sinto mesmo realizada a trabalhar numa loja de roupa.

Nós temos de nos sentir felizes a fazer o que gostamos. E atenção, eu adoro a minha área. Eu adoro crianças. Os pais, na creche, até fizeram abaixo-assinado para eu poder lá ficar. Mas é como eu costumo dizer, às vezes temos de juntar o útil ao agradável. E com as crianças é preciso ter-se muito mais responsabilidade. Na loja fazemos o que gostamos e não estamos a educar nem a ajudar crescer um ser em que as bases somos nós que as temos de introduzir. A loja é um trabalho mais leve. Faz-se de outra maneira e eu adoro o contacto com o público.”

Q: Quais foram os obstáculos ultrapassados que hoje definem a resiliência do seu negócio?

“Eu vivo o dia a dia, não penso nessas coisas. Prefiro não pensar, mesmo quando foi a época da pandemia. Se fosse assim, eu nunca teria aberto a loja. Eu foquei-me em abrir e realizar o meu sonho.

Contudo, houve um obstáculo. Quando abrimos a loja, criámos uma página no Facebook. Chegámos a ter duas mil pessoas a seguir a página da loja e estava tudo bem. Até que houve um dia, cerca de dois meses depois, em que chegámos à página para fazer uma publicação e apercebemo-nos que não tínhamos página. O que é que aconteceu? A explicação que o Facebook nos deu foi que fomos bloqueados. Agora se foi uma denúncia, se foi uma acusa, não sei. Mas foi complicado. E vou ser sincera, fiquei frustrada nesse aspeto.

Eu não desejo mal a ninguém, não me meto no trabalho de ninguém e o que me deram a entender foi que alguém fez alguma denúncia para nós ficarmos sem a página. Mas não fomos abaixo e isso ainda nos deu mais força. Hoje, eu orgulho-me porque se isso não me deitou abaixo, mais nada me vai deitar abaixo.

Logo no dia a seguir ao ficarmos sem página, decidimos fazer uma nova. Mas ficámos sem nada do que tínhamos até esse momento. Agora a questão é que, quando pergunto às pessoas se seguem a nossa página, elas dizem-me que já seguiam. Ou seja, elas pensam que seguem a antiga e estão com a consciência tranquila, mas já não seguem nenhuma porque a antiga foi bloqueada. Por isso é que algumas pessoas me informavam que não lhes aparecia nada dos artigos. Lá está, porque não sabiam que há uma nova página. Há muita gente que já aderiu novamente, mas há outras pessoas que ainda não sabem que isso aconteceu.

Em relação às outras lojas, não invejo o que as pessoas compram. Não critico. Cada um tem de comprar onde se sente bem. Isso é o meu lema. Eu tenho clientes que são amigas e que me dizem que foram comprar tal artigo a tal loja. Por mim tudo bem. Compram aqui um casaco, ali compram uma calça. Vão a outra loja e compram uma t-shirt. Assim são todos ajudados. Para estarmos cá hoje, se não formos ajudados e se os clientes não forem comprando, as lojas fecham. E a coisa mais bonita que há é chegar, por exemplo, aqui ao Pelourinho e ver as lojas abertas como estão agora.”

Q: O seu comércio deixa uma marca inovadora na Covilhã. Quais são os pontos altos de estar a trabalhar nesta cidade?

“Eu gosto da cidade da Covilhã. Eu sou da zona da Guarda, tirei o curso na Guarda e também trabalhei em lojas da Guarda. Quando decidi vir para a Covilhã, as lojistas da Guarda disseram-me: «Marisa, onde é que tu te vais meter? Tu queres ir para a Covilhã? As pessoas lá são todas de nariz empinado, só têm mania e se as virares ao contrário nem um cêntimo lhes cai do bolso.» Nunca me esqueço desses dizeres das senhoras da Guarda. Era a opinião delas, mas eu quando vim não conhecia a Covilhã. Então eu ficava a pensar sobre onde realmente me ia meter. Mas agora já sei e não tenho nada a dizer das pessoas da Covilhã. Aliás, muito pelo contrário. Eu fiz muitas amizades aqui na cidade. Posso dizer que eu não tenho aqui família, mas sinto-me como se estivesse em casa. Eu adoro as pessoas daqui, elas acarinham-me imenso.

O que eu penso é que se as pessoas não gostassem de mim, não tinham vindo comigo. E as pessoas vieram. É também o facto de eu passar na rua e as pessoas falarem-me. Eu conheço muita gente graças ao ter uma loja aberta. É o ramo em que eu ingressei, do atendimento ao público. Mas as pessoas não são todas iguais. Eu tenho que me adaptar a cada uma. Há pessoas que têm de ser atendidas de maneira diferente. Com o tempo, nós temos de saber com quem estamos a lidar. E se uma quer ser atendida de uma maneira, isso não quer dizer que a outra seja atendida da mesma.

Também reconheço que tive uma vantagem em abrir aqui a loja. Eu já trouxe a carteira de clientes que eu tinha de onde estava a trabalhar. É como eu costumo dizer, quem faz a loja não é a roupa que lá há, é o cliente que lá está. As pessoas iam lá por nós. Elas iam por mim. Não pelo que lá havia. Elas diziam-me: «Marisa, se abrires noutro lado, nós vamos atrás de ti.» Na altura, pensei que não era verdade e que era só o que elas diziam. Mas não, aconteceu mesmo. Ou seja, desde que eu tenha a loja aberta, elas vêm aqui. O que me explicaram é que tinham de comprar roupa na mesma, por isso se puderem comprar com a pessoa que estão habituadas e que gostam, então não vão a outro sítio, onde não conhecem a pessoa.

A localização também é ótima. Ao termos aberto aqui no Pelourinho estamos perto de tudo. Estamos perto dos CTT, o que traz muita gente. Estamos também perto da Câmara Municipal. É um sítio espetacular, não estou nada arrependida. Portanto, tudo isso ajuda a que estejamos bem no trabalho.”

Q: Tendo em consideração os diversos desafios e dificuldades que o comércio tradicional e local enfrenta na atualidade, quais são as suas perspetivas para o futuro?

“A minha perspetiva é mesmo viver um dia de cada vez. Não sei o que se vai passar daqui a um ano ou dois. A verdade é que, ao vivermos um dia de cada vez, vivemos as coisas com uma mente muito mais aliviada. Se nós estamos a pensar no que é que vai acontecer daqui a um mês ou daqui a um ano, nós não vivemos nem desfrutamos da mesma maneira. Ficamos presos ao «e se isto fica pior? E se depois se não há dinheiro?» Não, eu prefiro viver com a consciência tranquila de que estou a fazer um trabalho que me realiza. Um trabalho que eu vejo que ajuda muita gente, até porque muitas pessoas vêm aqui para desabafar. Muita gente, por causa da pandemia, ficou sem trabalho ou com depressões.

Há muitas pessoas que eu vejo aqui que não tem ninguém para conversar. É triste, mas é verdade. E nós, ao estarmos aqui, estamos a ajudar o cliente a exprimir-se e a aliviar um bocadinho. Ao mesmo tempo, o cliente vem e acaba por levar um artigo. Ou seja, estamos a ajudar nos dois sentidos. A pessoa sai daqui com a mente mais aliviada porque desabafou e também acaba por ir bonita e feliz porque leva uma peça de roupa nova, um miminho para ela. Isso é que é bonito. Não é o tentarmos impingir, o estarmos aqui a tentar obrigar a pessoa a comprar algo. Não gosto disso. E o facto de estarmos aqui é viver um dia de cada vez, fazermos o que gostamos com carinho, com amor, porque assim as coisas saem de forma diferente.

E eu só espero que a loja continue a estar presente daqui a uns anos. É só isso. Se estiver de pensar no futuro, é com o desejo que hajam mais aniversários.”

Free Download WordPress Themes
Download Nulled WordPress Themes
Download Best WordPress Themes Free Download
Download Nulled WordPress Themes
udemy free download
download coolpad firmware
Premium WordPress Themes Download
udemy free download